quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A presença do amor

Os passageiros do ônibus olhavam com compaixão à jovem mulher com a bengala branca, enquanto ela cuidadosamente subia os degraus.

Pagou a passagem e com suas mãos localizou o assento vazio que o motorista indicara.

Então, sentou-se colocando sua pasta no colo e descansou a bengala contra
a perna.

Fazia um ano desde que Susan, 34 anos, ficara cega. Devido a um erro de diagnóstico médico havia perdido a visão e foi lançada repentinamente em um mundo de escuridão, raiva, frustração e pena de si mesma.

Outrora independente, agora Susan estava condenada por essa tragédia do destino a tornar-se um fardo impotente, desamparada.

“Como isto pôde Ter acontecido a mim?” ela dizia, com o coração mergulhado em amargura. Não importando quanto lamentasse ou rezasse, sabia que sua dor não poderia trazer de volta sua visão.

Uma nuvem de depressão rondou seu espírito, outrora otimista.

Cada dia, viver era um exercício de frustração e esgotamento.

E tudo o que ela tinha a que se agarrar era seu marido, Mark, um oficial da Força Aérea que a amava com todo seu coração.

Quando ela perdeu sua visão, ele a olhou e, sentindo o desespero da esposa, determinou-se a ajudá-la a recuperar a força e a confiança que ela precisava para tornar-se novamente independente.

A experiência militar de Mark havia treinado-o para lidar com situações delicadas e ele sabia que aquela seria a mais difícil batalha que ele teria que enfrentar.

Finalmente, Susan sentia-se preparada para retornar a seu trabalho, mas como fazê-la chegar até lá?

Ela costumava pegar o ônibus, mas agora estava muito amedrontada para andar pela cidade sozinha.

Mark ofereceu-se para levá-la de carro diariamente, embora eles morassem no lado oposto da cidade.

No princípio, Susan sentiu-se confortada e isso satisfez a necessidade que Mark sentia de ajudar sua esposa cega que sentia-se tão insegura sobre executar as tarefas mais simples.

Logo, no entanto, Mark percebeu que isso não estava funcionando – além de conturbar o horário, ainda estava saindo caro.

Ele admitiu a si mesmo que Susan teria que começar a tomar ônibus novamente. No entanto, apenas o fato de ter que mencionar isso a ela fez com que ele se sentisse incomodado. Ela ainda sentia-se fragilizada e com raiva. Como ela reagiria?
Como Mark previra, Susan ficara horrorizada à idéia de ter que tomar o ônibus novamente. “Eu estou cega!”, ela respondeu amargamente. “Como posso saber onde estarei indo? Eu sinto como se você estivesse abandonando-me!”

O coração de Mark quebrou-se ao ouvir estas palavras, mas ele sabia o que deveria ser feito. Prometeu a ela que a cada manhã e a cada noite ele a acompanharia até o ponto de ônibus, até que ela se sentisse capaz de fazer por si mesma. E foi exatamente isso que aconteceu.

Durante duas semanas, Mark vestiu seu uniforme militar e acompanhou Susan quando ela ia e vinha do trabalho. Ele ensinou-lhe como confiar em seus outros sentidos, especialmente na audição, para determinar onde ela estava e como adaptar-se a seu novo ambiente. Ele a ajudou a ser amiga do motorista de ônibus que poderia ajudá-la a encontrar um assento. Ele a fez rir, mesmo naqueles dias mais difíceis quando ela tropeçava degraus do ônibus ou derrubava sua pasta.

A cada manhã, eles faziam o mesmo caminho juntos e Mark pegava um táxi de volta para seu trabalho. Embora essa rotina fosse mais cara e cansativa que a anterior, Mark sabia que era apenas uma questão de tempo até que ela pudesse pegar o ônibus por si só. Ele acreditava nela, na Susan corajosa que enfrentava qualquer desafio, a Susan que conhecera antes de ela ter perdido a visão.

Finalmente, Susan decidiu que estava pronta para experimentar a viagem sozinha. A manhã de segunda-feira chegou e antes de partir, ela abraçou Mark, seu guia de ônibus, seu marido e melhor amigo. Seus olhos estavam molhados pela gratidão, paciência, lealdade e amor que ele lhe devotava. Ela disse tchau e pela primeira vez eles seguiram caminhos separados.

Segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira...cada dia ela pegava o ônibus sozinha e sentia-se muito bem.

Na sexta-feira pela manhã, Susan pegou o ônibus como normalmente havia feito desde o início da semana. Enquanto estava pagando a passagem, o motorista disse-lhe “ Eu realmente a invejo”. Susan não tinha certeza se o motorista havia falado com ela. Afinal de contas, quem em sã consciência teria inveja de uma mulher cega que durante o último ano estivera lutando para encontrar coragem para viver? Curiosa, pergunta ao motorista: “Porque diz que me inveja?”

O motorista respondeu-lhe: ” A senhora sabe, todas as manhãs dessa última semana, um cavalheiro num uniforme militar tem lhe observado enquanto a senhora sai do ônibus. Ele se assegura de que a senhora atravessa a rua de forma segura e de que entra naquele prédio comercial. Então ele lhe lança um beijo, faz um aceno discreto e vai embora. A senhora é uma pessoa abençoada.”

Lágrimas de felicidade rolaram pelo rosto de Susan, pois ela não podia vê-lo mas ela sempre sentiu a presença de Mark. Ela era realmente uma pessoa abençoada, pois ele havia lhe dado um presente muito mais poderoso que a visão, um presente que ela não precisava ver para acreditar – o presente do amor que pode trazer a luz a qualquer lugar onde haja escuridão.

Deus nos observa da mesma maneira.
Podemos não saber que Ele está presente.
Podemos não ver Sua face, no entanto, Ele sempre está lá!



PR. JOSÉ CARLOS EBLING